Embriagado de Amor

Punch-Drunk Love – Paul Thomas Anderson – 2002 (DVD)

Eu tenho um amor na vida que me fortalece mais do que qualquer um imagina”.

Numa estranha manhã, Barry Egan vestido com um terno azul, sai do galpão do escritório, após confirmar uma promoção com a empresa alimentícia Healthy Choice, e segue até a rua como se algo o chamasse. O sol ainda não apareceu totalmente e a rua ainda vazia anuncia as primeiras horas da manhã. Barry segura uma caneca de inox. A câmera passeia e para por trás dele meio desfocada. Avistamos o longo caminho até a rua. Rapidamente o foco é acertado. E o longo caminho se torna curto para a câmera que lentamente muda de posição para mostrar a rua deserta ainda com as luzes dos postes acesas. Dois carros se aproximam em velocidade. Um mais do que o outro, e, no que parece ser um furo de pneu, ele capota passando alucinadamente a nossa frente. Uma caminhonete. O outro, um furgão da Checker Companhia de Táxi para abruptamente em nossa frente e larga o que parece ser um órgão de igreja velho.
O mais cult dos filmes de PTA, Embriagado de Amor é um romance nonsense de espírito livre e ótimas atuações. Adam Sandler está bastante à vontade no papel do genioso, neurótico e abobalhado Barry Egan, um empresário que possui uma fábrica de desentupidores, e é manipulado pelas sete irmãs, que escolhem a colega Lena (Emily Watson) para namorar o rapaz. Metido em encrencas com o órgão da rua, cupons de pudim e extorsões por causa de um fone-sexo, Egan anda no limite das emoções.

O roteiro de Paul Thomas Anderson foi inspirado num artigo da revista Time, escrito pelo engenheiro civil David Phillips, que mostrava um erro do pessoal da Healthy Choice que, juntando 12.150 cupons de pudim por 3 dólares, você acumulava até 1,25 milhas grátis.

O ritmo do filme é alucinante, e a trilha é a grande responsável por isso, PTA nos impõe a angustia da personagem de Sandler assim que o primeiro frame invade a tela, numa mistura de cores cítricas.

Um mestre nessa arte, o cineasta usa o recurso da trilha como elemento narrador da trama em todas as suas películas, em Embriagado de Amor é onde fica mais evidente. A polêmica da cena do órgão remete a chuva de sapos de magnólia (1999). Eu acho que quem mandou entregar o estranho objeto foi a própria Lena, mas já li comentários de que isso possa ter sido outra encrenca que Barry se meteu antes. Pode também ser uma espécie de MacGuffins*.

A estranha e ótima música He Needs Me, é interpretada pela atriz Shelley Duvall no filme Popeye (1980) de Robert Altman, onde ela faz o papel de Olívia Palito. Anderson a usou no seu filme e ficou sensacional, parece que foram feitos um para o outro.
O papel de Barry Egan foi especialmente escrito para o comediante Adam Sandler, mas o filme conta também com as participações de Luis Guzmán, um constante colaborador de PTA, esteve em Boogie Nights (1997) e magnólia (1999), e Philip Seymour Hoffman, que participou de todas as películas do cineasta, e aqui faz um trabalho genial como um golpista nervoso e covarde.

* Segundo Alfred Hitchcock 'MacGuffins' são objetos que só servem para contar uma história maior. Funciona como elemento de atenção para algo mais elaborado, sua funcionalidade é só essa.

Comentários

Kamila disse…
Cassiano, disse no seu primeiro post desta retrospectiva, que eu odiava esse filme. E você me convenceu a assistí-lo novamente. Ainda não o fiz. Mas, continuo odiando a tentativa do Adam Sandler de se parecer com Jim Carrey.
Unknown disse…
Eu acho que "Embriagado de amor" é a comprovação do talento de duas pessoas. O primeiro, PTA, que mostrou dominar de uma vez por todas as técnicas de montagem cinematográfica. Visualmente, acho que esse é seu filme mais exuberante. O segundo, Adam Sandler, que demonstrou ter a capacidade e o talento necessários para interpretar um personagem que não faz rir por piadas ou expressões faciais exageradas. Aliás, sempre achei ele bom na comédia - e na minha opinião, fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. Logo, este filme fez a ele o mesmo que "O show de Truman" fez a Jim Carrey e "Mais estranho que a ficção", a Will Ferrel.

E adorei a tal cena do vendedor de colchões, com a qual você nos presenteou! Obrigado! rs...

Abs!
Unknown disse…
Ah, já ia me esquecendo: "O vampiro de Düsseldorf" está disponível em DVD. Saiu em boxes e coletâneas. Se a sua locadora faz acervo, vai ser fácil encontrá-lo!

E para você que é cinéfilo, é uma aula de história do cinema! Vale muito a pena.

Abs.
Ramon disse…
Nossa... que alucinógeno esse post. O filme deve ser uma experiência cinestésica um tanto maluca. Nunca tinha ouvido falar dele. Vou procurá-lo, porém não sei se encontrarei com facilidade.

Ah, mas o Adam Sandler está sempre à vontade. Até demais, não acha?! hehe!
Museu do Cinema disse…
Oi Kamila, que bom, eu acho que a experiência desse filme só funciona a partir da segunda visão.

Dudu, eu não gosto muito das piadas do Adam Sandler, não acho graça nele, mas é inegavel que ele tá bem a vontade no papel de Barry Egan. Valeu pela dica cinéfila!

Ramon, vc vai achar sim esse filme com facilidade nas locadoras. O Sandler realmente tá sempre muito a vontade.
Otavio Almeida disse…
Eu estava embriagado demais quando vi esse filme... mas ainda não fiquei sóbrio de amor o bastante para encará-lo novamente...

Abs!
Kamila disse…
É justamente por isso que assistirei ao filme novamente, Cassiano.
Museu do Cinema disse…
Otávio, volto a repetir, vc é a confirmação da genialidade de PTA, por ser o do contra aqui. Como Nelson Rodrigues pregava!

Kamila, sua segunda experiência será muito melhor que a primeira, lhe garanto!
Anônimo disse…
Legal a forma como você fez esse texto, inclusive com o uso de cores. Realmente é o mais cult do PTA, acredito até que seja odiado por alguns de seus fãs - tem gente que ama "Magnólia" e odeia esse "Punch-Drunk Love", por exemplo. Claro que não se compara a "Boogie Nights" ou o próprio "Magnólia", mas é tão digno quanto os demais filmes do diretor - que mereceu o prêmio em Cannes.
Museu do Cinema disse…
É um trabalho cult, nem sempre agrada a todos, mas tem os apaixonados! Conheço gente Vinicius, que acha esse o melhor dos filmes do PTA.